" Duo Tetine recupera disco inédito do underground brasileiro" por Marcia Bechara
Ao longo dos últimos 25 anos, o duo eletrônico brasileiro Tetine, formado por Eliete Mejorado e Bruno Verner, vem atravessando as fronteiras entre os universos da música, da performance, da videoarte e do texto, em criações que contam com parceiros tão plurais quanto a artista francesa Sophie Calle ou a MC brasileira Deize Tigrona. Em 2021, o Tetine lança pelo selo Slum Dunk uma pérola que reverbera sua raiz no prolífico pós-punk brasileiro. O álbum “Konkret Dance” traz inéditas do grupo R.Mutt, banda belo-horizontina que é um dos marcos da cena do rock underground no Brasil.
Um "universo sônico particular", ao mesmo tempo, melódico, austero, expressionista, lírico-dada surrealista, melancólico e percussivo: o duo eletrônico Tetine, radicado em Londres há 20 anos, lança pelo selo Slum Dunk Music o "Konkret Dance 1986-89", um álbum do quarteto pós-punk/eletrônico R. Mutt formado em Belo Horizonte em 1986. O disco está disponível desde o fim de dezembro de 2020 nas principais plataformas de música, e sai agora em vinil para o público brasileiro.
“Nossas referências na época do R.Mutt eram o Kraftwerk, talvez a maior influência da banda, mas também o pós-punk inglês da época, coisas como o Cabaret Voltaire, New Order, Joy Division, The Wake. O R.Mutt tinha essa sensibilidade avant-garde, que acreditava tanto na mistura do Kraftwerk com em coisas da música contemporânea, como Schöneberg, quanto em artistas como Laurie Anderson, Meredith Monk e Philip Glass”, conta Bruno Verner, que atualmente prepara um doutorado sobre o pós-punk na Universidade de Goldsmiths, em Londres.
O nome da banda, R.Mutt, faz referência ao pseudônimo de Marcel Duchamp: “Era esse o diálogo que a gente tinha na época, que se estende à geração pós-tropicalista, de artistas como Arrigo Barnabé, uma grande influência para mim, Itamar [Assumpção], o [grupo] Rumo. Tudo isso fazia parte do nosso imaginário e acho que era alimento para a banda”, diz Verner
O disco "Konkret Dance" traz 15 canções gravadas entre 1986 e 1989 período em que o banda se manteve ativa, revelando (e recuperando) o que seria seu primeiro disco, "a partir de gravações compiladas de suas duas únicas fitas cassete, respectivamente intituladas R. Mutt 1 e 2, além de registros de shows e ensaios".
Fazendo uso de sintetizadores analógicos, drum-machines e samplers para a criação de paisagens sonoras distópicas e glaciais, revisitadas por uma instrumentação eletroacústica, o R. Mutt produziu um universo sônico particular. “O mais importante nesta pesquisa é a produção de um tipo de sensibilidade sônica, ao mesmo tempo comum e distinta de várias cenas do pós-punk brasileiro. É isso que me interessa, é um modo de operar sonicamente sobre o mundo, utopicamente, de criar, de inventar futuros”, diz.
“Acho que é o momento desse disco. Esse álbum do R.Mutt foi um desses futuros apagados, extinguidos. Fiz uma seleção de musicas dos dois únicos tapes existentes de shows da época no Madame Satã, em São Paulo, e no projeto Rock Líquido, um show coletivo que aconteceu na PUC em 1988”, conta Verner.
Faziam parte da mesma cena pós punk belo-horizontina grupos como Divergência Socialista, Sexo Explícito, O Ultimo Número, Ida & Os Voltas, Hosana Nas Alturas, Xiitas, Alma Ciborg, Os Contras, Sylvia Klein, Crime-Ópera entre outros. A R.Mutt percorreu todo o circuito underground local do período, se apresentando em bares, clubes, cineclubes, universidades, cinemas e auditórios da cidade, tendo realizado shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Juiz de Fora, em importante espaços, instituições e clubes da época como Madame Satã, Espaço Retrô, Sesc Pompéia, Teatro Cenário, Complexo B, Crepúsculo dos Deuses e a PUC.
A banda R.Mutt ao vivo em show na famosa casa Madame Satã, em São Paulo, em 1987.
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posted by Bruno Verner @ 04:33
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