Sobre Vladimir Safatle e "O Fim da Musica"
Em que condomínio esse pavão de terno passado mora? Eu gosto do Christian Dunker mas definitivamente Vladimir Safatle está anos-luz pra trás, pelo menos quando pensa ou teoriza música pop ou mesmo 'erudita' - se é que é possível ainda utilizar esse termo. Nenhum artista brasileiro se manifestou sobre isso?
Tô escrevendo isso porque li a matéria sobre o 'fim da música’ do Vladmir Safatle no Brasil e também uma réplica bem mais esperta de um outro crítico (Acauan Oliveira) na página do Pedro Alexandre Sanches. Eu ja tinha achado o 'filósofo' (Safatle) elitista pela matéria publicada na sua coluna da Folha De Sao Paulo mas a explicação dele na TV cultura, alguns dias mais tarde, é realmente bem pior, além de ressaltar mais nítida e acusticamente quem o boneco formalista é. Pela fala. Pela voz. Argumentos e cacoetes linguísticos pedindo 'processsos de complexificação' na forma da canção popular.... falando em covardia critica, inovaçao formal... ou stuff like this "o pessoal da favela, da periferia nao tem acesso a John Cage e Ligeti….” ??? Pensei. Que papo é esse filósofo?
Na televisão ele continua: quando isso NĀO seria um problema?
Eu digo quando isso seria um probelma? Por que isso seria um problema? Como ele sabe que o 'pessoal da periferia e das favelas' nao tem acesso? Quem garante que ter acesso a Ligeti te faz mais 'especial' como músico e interfere na sua criatividade? Quanta presunção. Quanta leitura mal feita rapaz. E ainda dispara caretices como "veja bem nós conhecemos momentos de simplicidade que foram decisivos na musica popular"…e "mesmo nessa musica de maior consumo"…. ou mais chavão ainda …. "blues, punk…graças ao punk vc teve 10 anos de maior produtividade no rock mundial"…. "uma simplicidade bloqueadora". Para então sacrifar Deleuze & Guatari numa empreitada elitista contra o Funk. Sempre o Funk. Diz ele: "Nao há dinamica no interior dessas formas"
Tenho a impressão que o filósofo nao sabe absolutamente nada sobre Funk - tanto estética como historicamente - e se embaralha um tanto também com o legado de John Cage e outras posteriores cenas (e/ou simbologias) músico-espaciais 'sérias' ou não, 'eruditas' ou populares surgidas ao longo da imensa e descontinua narrativa do pop brasileiro e mundial. O fato é que pega mal pra xuxu ridicularizar as influências do FUNK em TV publica e sua maior potência, o beat, o sampler como um procedimento afetivo estético-histórico-sonoro-político e a voz (ou a não-voz) depois de tudo isso.
Do mesmo modo tenho a impressão que o filósofo nunca acompanhou a evolução da música eletrônica brasileira e tão pouco os 5 exemplos das músicas mais tocadas no Brasil que a apresentadora exibiu pra ilustrar a matéria na TV Cultura. Eu não entendo de sertanejo universitário, não acompanho e não é minha praia, mas pelo meu ouvido os exemplos que a apresentadora mostra estão na verdade muito mais próximos de uma "estrutura formal” tradicional da canção MPBistica (como o filosofo parece sugerir), isto é, de uma estrutura pop como conhecemos do que para uma outra historia qualquer.
Em outras palavras: não há dinâmica no interior da fala de Safatle, só o estado bruto de um 'afeto' generativo não-libertador, preconceituoso e classista.
O fato é que muito chão rolou, muitas 'segundas escolas vienenses' de fato se estabeleceram no mundo e cenas & micro-cenas invisíveis e consistentes se criaram em todo canto. Em todo canto.
Outras tensões vieram à tona, para usar um jargão do discurso de Safatle na TV. Tensões sociais, sonoras, plásticas, simbólicas e ideológicas que não podem ser ignoradas.
Fico aqui pensando... chega desse discurso clichezento elitista-bossanovista da 'sincope de João Gilberto’ - essa foi uma justificativa de anos da nossa música popular brasileira MPB comandada pela classe media e alta para enfraquecer ou desmerecer outras tensões (pulsões) ou mesmo outros tipos de música (ou mesmo anti-musica) que fugiam de um formato cristalizado nos braços de violão do país. Do mesmo modo, essa ja é considerada uma fala-discurso entoada por todos os nossos velhos articuladores musicais; um discurso critico dominante repetido, reformulado e requentado há anos no Brasil. O nosso ABC..... aquele, de quem leu o 'Balanco da Bossa', fez a liçao concretista, tropicalista mas nunca saiu de casa e parou/vagou por ai. Nesse sentido o discurso de Safatle torna-se pouco generoso, caduco, com poucos insights, canônico, 'escolar', reprodutor, sistematizador-autoritário disfarçado de libertário. Fico perplexo quando descubro que ele é um rapaz novo, parte de uma nova cena de intelectuais brasileiros... mas carregando os mesmos cacoetes. Não adianta só pedir a tensão. A tensão se manifesta, ela já esta no ar - digo estética e historicamente. Esta no break, nesse intervalo, nessa fissura. E está no Brasil principalmente em suas micro-cenas sufocadas mas ainda respirando. A tensão está (e esteve) no rap, no funk, no experimental, na eletrônica, no post-punk e até mesmo na 'nova' MPB, mas é preciso sair, ou entrar de vez... dar uma volta na rua e entender a tensão, entender a escuridão. Pisar nos ovos. Tirar os óculos.
Não adianta transformar a coisa em um 'sistema' e ficar parado em algum lugar entre a 'universidade' e um 'projeto harmônico' saudoso que um dia te tocou.
Esse elitismo é e sempre foi a pior coisa estampada na voz e no corpo daqueles que frequentaram escola particular no país. Não é simplesmente uma questão estética, é uma questão de classe.
Labels: artigo, bruno verner, funk, györgy ligeti, john cage, metropolis, o fim da musica, pedro alexandre sanches, sertanejo universitario, TV cultura, Vladimir Safatle
1 Comments:
Safatle é "indústria cultural" de política e filosofia: https://www.academia.edu/21484371. Não bastasse, é DJ: https://www.vice.com/pt_br/article/nzgzex/dj-vladimir-safatle.
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