I don't spell A.R.T - sobre lugares, não-lugares, des-lugares
Mas para quem Safatle fala em seu texto? Que destino é esse hoje? Útil pra quem? Como isso funciona no Brasil? Para o seu 'leitor-artista', para curadores, para colecionadores, para as instituições? De que ‘arte’ Safatle realmente está falando? São tantas. Essa me parece a maior pergunta aqui. Hoje? Ontem? De que 'artistas'? O que significa ser artista em 2017?
Esse sopro, essa angústia e esse não-lugar, ou melhor (des-lugar) da 'arte' (ou do 'artista' se estendermos esse raciocínio), esse espaço de não-pertencimento sem função está no ar desde que o mundo é mundo. Está no ar. E hoje, não é nem mais subterrâneo. Nada. Nem os processos. Nem os atos. Nem os movimentos. Tudo é imensamente visível. E cru, como a superfície dos sujeitos e dos objetos. E por isso incomoda. No entanto Safatle fala sobre esse nao-'lugar' sem realmente falar, sem realmente estar. Sem realmente acessar o corte, o "velado", "o wierd"; essa outra presença-aparentemente ausente nos objetos e sujeitos existenciais. Safatle permanece na superfície, sem chance de se afogar na piscina. Minha impressão é que 'mistificando' o processo (como algo intocável, oh essa grande dama.... a "arte", as "artes") Safatle responde e confirma o cansaço, a paralisia e a impossibilidade de seu objeto ( no caso aqui a "arte").
O destino de sua "arte" (seu objeto), mesmo pretendendo-se emancipatório me parece resignado, sem tônus. Falta algo, falta energia. Falta sexo. De onde vem sua voz? O meu problema com Safatle talvez comece na voz. Não se trata unicamente de 'arte'. Ainda sim, sabemos, que este 'des-lugar' está na pele de qualquer ‘artista’ (indivíduo, grupo, coletivo, entidade, vitalidade etc) que não tenha sido abocanhado ainda pelo mercado branco Brasileiro e pelos processos do capital financeiro. Como diria Chilly Gonzales brilhantemente e brutalmente na sua cara e em canto - 'I don’t spell A.R.T."
Não há tanta diferença entre ‘artistas' hoje e especuladores imobiliários, gentrificadores ou business men & women. Todos os ‘escolhidos' participam dessa economia, gostam desse rush, 'criam' em função disso. Gostam dos números. Gostam de 'funções'. Posições. Escalas. Gostam dos jantares, das fofocas…. em suma são 'funcionais' na medida - you get my drift. Geralmente são artistas medrosos, arrogantes, repetitivos, pomposos e cheios de auto-piedade. Portanto nesse contexto (que não é e nem nunca será um contexto de 'vulnerabilidade real', principalmente se pensarmos no Brasil). Quem faz "arte" no Brasil?
Quem tem medo é porque está protegido, não?
Assim como a ‘Arte’ (a grande personagem do texto de Safatle), 'artistas' hoje têm uma função-padrão. Clara, definida, caracterizada. Fechada em si. Um papel bem definido na escala numérica, capitalizada e colonizada de seu espaço e tempo de atuação. Seus afetos foram infantilizados. Igualados, simetrizados aos de seus sponsors e opressores. Nesse caso, não interessa tanto se a 'arte' volta-se a si mesma, reconstruindo o aspecto de sua auto-referencialidade e tornando-se seu "proprio objeto" ou quando se atualiza em "engajamento" e em função social como Safatle descreve exemplificando a dinâmica em dois modos, duas saídas que restaram. Mas que diferença isso faria para o monstro? Para o capital? Para a coisa? Para o mercado branco? Para "Arte"? Para sua ontologia?
Não precisamos lembrar como se formam 'artistas escolhidos' hoje e também não precisamos ir a fundo na obviedade e decadência brutal das escolas de arte, das universidades, das galerias comerciais, dos museus ou das salas de estar de dondocas, colecionadores, curadores, galeristas e artistas. Assim como robôs de pintos moles num plot ficcional ruim, 'artistas' compram 'sensibilidades' na mesma medida em que curadores compram 'discursos' e vice versa. Não há muita distinção. Assim como o texto de Safatle, por sua vez, se desdobra na ‘função' de formalizar (já normalizando) um ‘destino’, um novo 'medo' mediano para então definir o 'lugar' ou 'não-lugar' natural da 'arte', produzindo então uma outra nova função no próprio sistema que o filósofo aparentemente (e 'delicadamente') expõe. Não consigo pensar em outra lógica. Essa é a missão. A retórica de Safatle simula movimentação mas é fechada em si e portanto contra-contracultural. Por isso é un-sexy. Não goza. Me parece sempre destinada a continuar re-iluminando as mini-certezas de uma inabalável e amendontrada classe Brasileira mal-educadamente bem 'educada', semi-erudita e bem comportada.
Who put you in prison?
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